Eu achei essa pérola no FB do querido Cliff Li, o homem que me deu a oportunidade da minha primeira mostra individual em SP, na então LEICA GALLERY.
O texto é de tamanha lucidez que me sinto a vontade em dividir com os meus leitores.
Espero que gostem.
But is it ART??
A foto vende por 6.5 milhões de dólares -- o preço mais alto até hoje pago por uma foto -- e os críticos (do The Guardian inglês, por exemplo) saem exasperados gritando, "mas isso não é arte!!" "Meu ipad também faz a mesma coisa," diz Jonathan Jones, critico do jornal. Seu ipad, Mr. Jones, também escreve "Guerra e Paz"... é só começar...
Mas, coitado, quem não entende das dificuldades envolvidas em se criar imagens, da sofisticação do olhar, da luz, do enquadramento, da história da fotografia, do imponderável, fica mesmo confuso.
Os impressionistas passaram por isso. O próprio nome "impressionismo" vem do crítico Louis Leroy, ironicamente chamando os "quadros inacabados" da vanguarda do século 19 de "impressionistas". Tudo por causa de uma pintura linda do nascer do sol de Claude Mone chamado "Impressões" que todo mundo, na época, odiou.
Discutir se fotografia é arte ou não seria muito atual - se vivêssemos no finzinho do século 19. Hoje, com trabalhos fotográficos cada dia mais complexos, lindos e extraordinários, bienais mostrando cada vez mais fotos, museus gastando milhões para montar suas coleções, esta é uma discussão absurda.
Se a imagem do Antelope Canyon, do australiano Peter Lik (1959), vale tudo isso ou não já é uma outra conversa, meio metafísica (meio policial talvez?), que podemos ter por anos sem chegar a uma conclusão.
A verdade é que o Lik é dono de várias galerias e o que complica é que vende a versão colorida da mesma imagem (edição de 950) por 3 mil dólares cada... Como é que pode a versão preto e branco valer tanto? É uma peça única, como explica o advogado de quem comprou a foto mas que não revela o nome do comprador.
O X da questão, me parece, é o Jonathan Jones ter dito no The Guardian que a foto parece um poster de um hotel, que é só dar um google que encontramos milhares de fotos parecidas. Mentira. A foto é linda! Eu dei um google e não tem nada assim. Ele consegue criar um mistério (a foto chama-se apropriadamente Phantom - fantasma), dentro de uma imagem absolutamente normal. Esta mistura é que, para mim, faz a imagem escapar do ordinário e se transformar em uma imagem especial.
A ultima foto vendida por milhões e, por um bom tempo, campeã de preço, é uma foto extraordinariamente ordinária, do alemão Andreas Gursky (saiu por 4.3 milhões de dólares).
O problema é o conjunto da obra. O Gursky tem imagens incríveis e a "Rhein II" é só mais uma. É possível entender seu alto valor por toda trajetória do alemão (e pela complexidade da IDEIA na foto, que é photoshopada ao extremo). O Gursky tem trabalhos nas coleções dos melhores museus do mundo.
O trabalho geral do Lik é bem mais previsível, beirando o óbvio e açucarado -- lugares lindos, numa luz linda -- um Romero Brito da fotografia... Fica faltando alguma coisa que a Phanton por acaso tem de sobra: o mistério, a ambiguidade, o desconhecido, o transcendental... E não pertence a nenhuma grande coleção...
O crítico do The Guardian começa o artigo dizendo que fotografia não é arte e nunca vai ser. Na verdade o que ele de fato afirma dizendo isso é que ele é que não entende nada de arte. (post sugerido pela lindíssima Betina Samaia)
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